O projeto “Stalker” de Luisa Alcântara narra a germinação e a explosão de sentimentos e emoções opostas.
Invertendo situações dissonantes por meio de uma relação ambígua com a linguagem pictórica, Alcântara constrói uma fenomenologia que entrelaça tecnologia e pintura de forma direta, sem deixar espaço para equívocos — ao equivocar-se.
Com um humor tragicômico, ela converte a “paixão predatória” num percurso pictórico intricado e perverso que, in crescendo, faz o espectador reviver sensações ocultas em seu subconsciente.
A coexistência de meios e tecnologias adversas, mas complementares, como audioguias e textos complexos, é fruto de relações privilegiadas e misteriosas com artistas, curadores, amigos ou amigos de amigos; mas quem são essas pessoas que se intrometem livremente na vida da obra da artista?
Começo a sentir ciúmes.
O espectador é, ao mesmo tempo, “stalker” e “stalkeado”, pois Alcântara se insinua em sua mente, sugerindo desconfortos — construindo cuidadosamente uma cacofonia cristalina que exige um olhar dinâmico e um ouvido “biônico” para captar sua essência inatingível.
Estou hipnotizado.
Coreografias para o olhar, olhar após olhar, danço sobre suas obras como uma borboleta em busca de sua flor favorita.
Minha audição e visão são ativamente estimuladas para adentrar uma dimensão paradoxal… janelas se abrem e me apresentam uma figura feminina indefesa e surpreendida, surpreendida por olhares indecentes e intrusivos. Olhares que, tomados pela obsessão, se insinuam, cegos pela escuridão de um desejo impetuoso.
Agora, um desejo doente e incontrolável cresce em mim… cresce o desconforto, sofro por ela, minha cabeça explode, e meus ouvidos apitam como se o cérebro não conseguisse processar a imagem diante de mim.
Me sinto mal — não consigo mais escrever, sofro, tenho náuseas… estou sobrecarregado. Eu a quero. Quero que ela seja minha.
Estou mal — não consigo… meus olhos não conseguem mais seguir a narrativa. Quanto mais avanço, mais tudo se torna abstrato — tudo escurece. Há pouco espaço para ela… só resta o seu braço.
Rosas sujas pela escuridão de pensamentos turvos e terríveis disputam espaço numa dimensão reflexiva sem reflexo. Estou ali, mas não me vejo — mas juro que estou — me percebo, e me envergonho… me procuro na escuridão da angústia mais profunda. Eu a quero, mas quero a rosa — seus lábios de rosa.
Quero só ela — minha rosa suja pelo olhar alheio… estou perdido. Não era pra terminar assim… me dissolvo no espaço e só devia ter escrito… agora tudo está preto — mas ela permanece — a boca de rosa.
-Cristiano Raimondi